A melhor coisa sobre uma fotografia, é que ela não muda mesmo quando as pessoas mudam. Andy Warhol
A palavra fotografia deriva de duas palavras gregas que juntas significariam algo como “escrever com a luz”; os orientais dizem ainda melhor, na sua língua o significado de fotografia é “desenhar com a luz”. E fotografia é isso mesmo, ao fotografar, não capturamos o objeto, mas apenas a luz refletida por ele. Por isso a necessidade de luz, natural ou artificial para se obter boas fotografias.
Verdade que hoje as máquinas fotográficas e os celulares se encarregam dos detalhes técnicos e até um capiau como eu, de vez em quando, toma ares de Sebastião Salgado.
Mas sou de um tempo em que palavras como obturador e diafragma faziam parte do vocabulário de um bom fotógrafo, e não nos esqueçamos do “quarto escuro” utilizado para as revelações. Das fotografias, claro.
E “Kodak” era sinônimo de máquina fotográfica. “Não esquece a Kodak!” era muito ouvido nas saídas para viagens ou passeios e tive um amigo que só fotografava com filme “asa quatrocentos”.
Nunca soube que diabo de filme era, mas sempre o olhei com muito respeito. E as trocas de filme? Máquinas havia que exigiam habilidades de cirurgião para retirar o filme e não queimá-lo! E as histórias de fotos extraordinárias que nunca vieram à luz porque o incauto fotografara sem filme? E a espera pela chegada das fotos enviadas para a revelação? E as fotos desfocadas, ou aquelas em que o cidadão aparecia retratado das canelas para cima?
Henri Cartier-Bresson, que foi um ícone da fotografia dizia que “suas primeiras 10 mil fotos são as piores”.
Tenho um tio que é fotógrafo e generoso e graças a ele tive uma infância bem documentada; toda vez que nos visitava nos fotografava e, no ano seguinte, trazia as fotos. Por causa disso sei que já tive bochechas e cabelo. Graças a ele também sei que já usei umas bombachas folgadíssimas e botas de borracha quatro números acima do meu. E meu irmão que saiu mijado numa foto? Toda vez que falo nisso ele garante que não é bem assim e muda de assunto!
Como todo pai babão também fotografei incansavelmente. Meu filho aparece todo estiloso num cabelo tijelinha aos cinco anos e antes disso fora retratado de bico na boca nana no colo e fones de ouvido. O marrento já ouvia música naquela idade! E tem outras que vivo ameaçando lançar na rede para sua grande preocupação.
A fotografia também é chamada de “Instantâneo” e ela é isso mesmo, capta o instante, retrata fielmente o momento, com toda sua carga emocional. Uma das fotos mais famosas de todos os tempos foi feita por Robert Capa em 1936, durante a guerra civil espanhola e retrataria o instante exato em que um soldado é atingido mortalmente.
Outra, não menos famosa foi feita em 1945, em Nova York, e reproduz o beijo de um marinheiro atrevido numa enfermeira que passava na euforia dos festejos pelo anúncio do fim da segunda guerra mundial. Eles não se conheciam e ela só ficou sabendo que havia sido fotografada vinte anos depois.
A fotografia informa, denuncia, fornece a imagem para o que está sendo descrito. Os horrores da Síria atual não seriam tão impactantes sem as imagens que os traduzem.
Uma exposição do fotógrafo Tim hetherington , “Sleeping Soldiers”, chocou por revelar o que todos sabiam, os soldados enviados ao Afeganistão eram meninos! Foi necessário o fotógrafo surpreendê-los na sua intimidade, sem as armaduras de guerreiro para que sua fragilidade e desamparo ficassem evidentes.
A fotografia resiste ao tempo, sobrevive a guerras, sobrevive até aos amores que eram tidos como eternos. Rasgar as fotografias é uma das reações do cônjuge abandonado que não suportaria uma foto com a dedicatória “Te amo pra sempre” depois que esse declarado amor foi redirecionado. Compreensível. Mais caro e doloroso é tirar o nome dela tatuado para que todos vissem.